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O fim do CB e o até mais do Belas Artes

Na semana em que a cidade de São Paulo faz aniversário, fico sabendo que, além do lendário cine Belas Artes, cujo futuro é uma tremenda incógnita, também o CB Bar está fechando as portas.

São lugares que têm pouco em comum, além do fato de oferecerem cultura e diversão, mas o fechamento de ambos no início de 2011 mostra que a cidade tem pouco a comemorar.

No caso do Belas Artes, pode-se alegar que o imbróglio é entre proprietário e inquilino e que há outros cinemas de rua na região da Paulista. Dizer isso é dizer uma meia verdade. A perda, como memória afetiva e cultural da cidade, é grande.

Enquanto não se tem notícias concretas sobre a apressada tentativa de tombamento cultural do lugar -o prefeito de São Paulo detesta cultura e manda prender músicos de rua de forma truculenta-, o Belas Artes vive momento melancólico. Aumenta a frustração que o espaço esteja bem cuidado e cheio de vida. Não há sinais de decadência que indiquem ali um fim iminente.



Para homenegear o cinema, faço um link totalmente pessoal e musical: foi no Belas Artes que assisti a um dos melhores filmes de rock de anos recentes, o louco e extravagante "Hedwig - Rock, Amor & Traição".

Pra quem não conhece, trata-se de um meio-musical que narra as peripécias de um travesti alemão pela América com uma banda de proto-punk. Há cenas absolutamente marcantes, como os shows em espeluncas feitos por Hedwig e sua banda Angry Inch (a "polegada irada" do nome diz respeito ao que sobrou da operação de mudança de sexo da vocalista).

Nunca vi esse filme disponível em DVD no Brasil e não me surpreendo se existir apenas em empoeirados VHS por aí. Sorte de quem viu no cinema, em película.

Já o caso do CB, desconhecendo informações de bastidores, parece a mesma história do prazo de validade de certas casas. Os points dos anos 80 em São Paulo, como Ácido Plástico, Carbono 14 e Madame Satã, foram sepultados antes da década seguinte. Nos 90's, reinaram, em níveis diferentes de popularidade, Dama Xoc, Aeroanta, Der Tempel e outros. Nenhum existe mais.

O novo milênio trouxe uma proposta diferente: casas bem estruturadas, com bares bacanas, pista de dança e, não é regra, PA's de qualidade. Nesse cenário, surgiram as casas da ressuscitada Rua Augusta e região, como Inferno, Vegas, Astronete e os mais underground Outs e Sarajevo.

Fora do eixo, no bairro da Barra Funda, alguns clubes foram atraídos pela fama do D-Edge e suas baladas de segunda-feira pela madrugada adentro. Na região surgiram lugares como Clash Club e o CB Bar, que sai de cena após alguns anos abrigando festas e shows. Alguns memoráveis.

O CB será lembrado não apenas pela decoração descolada, os pints da inigualável Guinness e as doses congelantes de Jaegermeister. Foi naquele acanhado palco da Barra Funda que a lendária banda punk escocesa Rezillos fez sua última apresentação no Brasil.

Naquela reunião, estava ainda no grupo o guitarrista Jo Callis, que teve passagem pela banda pop Human League para a qual compôs o smash hit oitentista "Don't you Want Me". Após o show, a vocalista Fay Fiffe circulou em meio ao público no tipo de cenário que só casas com a proposta do CB podem propiciar.

Vi outros shows por lá, alguns de bandas vagabundas, é verdade, como o finlandês Massacre e o mequetrefe The Casualties. Mas minha última memória do CB não poderia ser melhor: a visão em carne e osso do explosivo e infernal Supersuckers.



Um cinema septuagenário e uma charmosa casa noturna. Os dois lugares saem de cena e desfalcam as opções de uma cidade que não pára de mudar. Casas como o CB aparecem e desaparecem o tempo todo, ainda que sem o mesmo carisma. E cinemas de rua parecem mesmo condenados a sumir.

Coisas da cidade grande.


Cena de "Hedwig - Rock, Amor & Traição", exibido no Belas Artes em 2001.

O cruzeiro do terror

Muita gente gosta de frio, mas tem o mesmo tanto, ou mais, que abomina a ideia de viver encapotado por semanas a fio e pegando um resfriado atrás do outro.

Imagine então o que sentem os habitantes do hemisfério norte, onde o frio, que é de verdade, faz as cidades de inverno brasileiras parecerem verdadeiros balneários. Esse escriba já experimentou o efeito de 17 graus negativos sobre a carcaça e garante que não é brincadeira.

Então, imagina-se que para quem vive sob temperaturas glaciais, descongelar em um cruzeiro pelos mares do Caribe deve ser um autêntico sonho de consumo.

E o que pode combinar menos com a lassidão do alto mar regado a frozen margaritas e smoothies do que um...festival flutuante de heavy metal?

A ideia é tão esdrúxula, mas tão esdrúxula, que alguém tinha que inventar. Um navio de 880 pés com todas as mordomias -cassino, sushi bar, decks com piscinas e a majestosa visão do oceano- a serviço de passageiros que querem desfrutar de todo o peso do metal.

Nesse mês de janeiro, flutuando sobre o mar azul e límpido se apresentarão nada menos que 40 bandas pra headbanger nenhum botar defeito. Metade delas oriundas da cena thrash metal dos 80's. Entre um mergulho de piscina e um prato de frutos do mar tocarão: Death Angel, Testament, Voivod, Destruction, Sodom e Agent Steel.

Se o passageiro se deu mal no jogo de black jack, não tem problema. Pode desestressar no convés assistindo a um clássico da New Wave of British Heavy Metal: o veteraníssimo Saxon.

Mas existem aqueles quem preferem o sossego de uma espreguiçadeira enquanto espalham protetor solar. Para esses há opções mais melosas. Que tal a pasmaceira europeia de Gamma Ray, Blind Guardian ou Sonata Arctica?

Até algumas esquecidas bandas de 3 décadas atrás vão pegar carona nesse barco, casos de Raven e Trouble.

Mas, imperdível mesmo, é a parte endemoniada do festival. Já pensou como serão os shows do Marduk e do Malevolent Creation no pomposo navio? O diabo vai botar uma camisa havaiana.

Fato é que o público envelheceu, se capitalizou e transformou-se num filão de mercado interessante para o consumo hedonista. Muito metaleiro de meia-idade já comprou a ideia e deve embarcar levando esposa, filhos e papagaio para ver o Twilight of the Gods interpretando os bestiais clássicos do sueco Bathory.

Mas não se preocupe: se você é abastado, ou abestado, o suficiente para curtir essa onda, ainda dá tempo de adquirir sua cabine no Majesty of the Seas e cair de cabeça no festival. O navio parte de Miami no dia 26 de janeiro, mas os ingressos estão quase esgotados.




Assista acima ao comercial do evento. Senso de humor eles têm.